segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Cena # 1971 - Os Amigos de Alex.



Noite de frio e chuva, convida à caixa das fotografias ao colo: continuo agarrado ao papel dos livros e do jornal que já nem as mãos suja e nem para envolver as castanhas serve, troco as trinta e duas latas Campbell por duas tigelas de sopa de feijão com hortaliça, um dia destes e ainda acabo a jantar a dois, à luz das velas, embalado pelos Velvet e pelos velhinhos Stones, às voltas no vinil da sala...: modernices.
Muitas fotografias, algumas a preto e branco, são estas que param o tempo e nos contam uma história (e nem lembramos a cor ausente). Dei com o Alexandre, o pequenitates de um metro e sessenta e pouco e o pouco advinha dos tacões que usava para jogar o bilhar. Era um diabrete, um ribossoma impaciente sempre a cocegar e a picar a membrana que o espartilhava, amigo do amigo e do amigo deste.

Recordámo-lo, há duas semanas, entre amigos, ao almoço no Gravatinha.
- E quando, já com o trotil, provocou a polícia que, naquela sexta à noite, fazia operação stop, na rotunda do Dez?!
Uma, duas, e à terceira volta, já o mandavam encostar.
- Eh, lá, para aqui às voltas e estava a ver que nunca mais parava!
Seis meses e já não voltou a conduzir.

Foi à consulta tarde, um tumor do fígado, irressacável: sem remédio,
Trejurei Hipócrates mas tive que lho dizer, meio a brincar:
- Alex, vais morrer da isca...
e porque

Viviam os dois, ele mais a miúda de sete anos que adotara e ninguém sabia, porque o Alex era assim, pequenino e teso, mas com um coração enorme e à miúda nunca lhe faltou.









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