domingo, 23 de dezembro de 2018

Cena # 1976 - O Seu, Meu Doente.


Juro que nunca o vi mais magro.,
O Francisco largou-se na cadeira: as aranhas vasculares que bailam na fácies gorda e vermelha, nas parótidas duas ameixas, o hálito alcoólatra, mentolado, e o foie gras bem tratado, não enganam: aposto-o emasculado, sem eles no sítio, irmão da confraria do Borba,
A esposa estende-me um papel,
- Um "recado", da médica do hospital...

Consultei a ficha, última e única consulta em dois mil e dois, já mudei de mulher três vezes depois disso,
A colega, mal-enganada professorou:
"O senhor Francisco, SEU (bem sublinhado) doente, esteve internado neste Serviço; encontra-se recuperado, do ponto  de vista do AVC, nem ele nem a esposa percebem o significado dos fatores de risco, não controla a glicemia, porque não tem tempo e acabaram as fitas, o esfigmomanómetro, emprestou-o ao vizinho e rasgou os valores tensionais que, refere, ainda anotou, não faz dieta: hoje, por exemplo, dia em que lhe dei alta, comeu bolo de torresmos ao pequeno-almoço!"

O meu, seu doente, colega, não tem remédio,
- Aquilo sem o mata-bicho não é a mesma coisa, doutor…




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