quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Cena # 680 - Histórias de Madrid II: a Agitprop.,


Está bem: caguei o chocolate e as porras, no Reina Sofia.,

Guernica., O mundo põe-me o estômago às voltas,
O dramatismo é ampliado pela tela: um quadro grande e um enorme quadro acintosamente monocromático, o preto e o branco da tragédia clássica.,

Era fácil para Picasso exalçar a tesura das milicianas, primeiras na Frente e como primeiro elemento da retaguarda,
Fácil e tão óbvio, narrar um acontecimento, marrar no acontecimento: o terrorismo selvagem, o bombardeamento impiedoso e continuado de indefesos civis, para menos, sem interesse estratégico.,

Guernica não é a cidade e, sem aviões, cabe lá o mundo inteiro: as sacas e os fuzilamentos de Barajas, os confundidos da Quinta Coluna e os fodidos do Cine Europa, a populaça escabeçada e os padres degolados, as freiras imoladas, antes exibidas nuas pela cidade, isto tudo,
A agitprop,
Os Feos e os Vengadores, a Cruzada de Franco, a insensibilidade de André-Marty e a Leica de Robert Capa,
A dor dos pais e das crianças, a separação, o horror,
A consequência: é o resultado que importa.

O traço infantil, que a genialidade precoce de Picasso roubou: está lá nada e lá está, tudo.,
É unânime: não há vencedores?, E tristemente intemporal: meses apenas estalou a Segunda Grande Guerra; a outra, um milhão e meio de mortos depois, foi pequena,
A máquina da guerra não se dá por vencida...

Se o touro e o cavalo representam o povo espanhol, estão a mais; se representam o homem-animal, estão a menos.,
A arte é uma mentira que ajuda a ver a verdade,
                                                      Picasso.

A ser verdade,
Picasso que viveu em Paris, refugiou-se no seu atelier, durante a ocupação nazi,
Ao ver a reprodução de Guernica, o embaixador alemão perguntou,
- Foi você que fez isto?!
- Não, foram vocês...


                                                                           II

Para a frente, é passar da sete para a seis, a sala onde se expõe o Guernica.,
A chinoca deu a volta à sala, demorou-se meio minuto nos Aviones Negros e, quando reconheceu o Guernica na sala contígua, embruteceu: empurrou meio mundo e só parou no chão, montada no Urso do Francisco Mateo, petrificado no meio da sala,

À falta de melhor, observei: está mal, pagam e não me pagam para quebra-cabeças, cubismo de Rubik, tens um caso bicudo por resolver,
- E agora?
Mete uma coisa nos cornos: aqui não cabe o mundo inteiro,
- E gelo., E o presunto para cima.

E agora?, Espreita o Guernica, há sempre quem esteja pior...













 

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