sexta-feira, 11 de abril de 2014

Cena # 234 - Almoço no Gravatinha.

Larguei o telemóvel e a Gracinha aos gritos no carro, há dez anos que se anda para matar. Para lá deve estar o Honorato a falar para o boneco, ao terceiro sinal deixe mensagem, na bula do antibiótico, é raro mas está contraindicado na porfiria, posso ter disto?, e o Luís que aos cinquenta quer o atestado para competir com os putos de dezassete a descer a montanha de bicicleta, é louco quem não é comunista aos dezoito, é-o mais quem passa dos quarenta e acredita no pai natal, é pura adrenalina e ainda bem, a libertação da hormona atenua a dor da fratura da tíbia e do perónio nos primeiros minutos.

Almocei com a cambada do costume no Gravatinha, iscas, pataniscas e o jarrinho de vinte e cinco.
Big Fernando, os negócios falharam, o casamento também. Divorciou-se mais ou menos a bem mal, o telefone não para, é a Aninhas, amor, jantamos amanhã, insiste a Mena, é melhor tirar senha, fotografias desta e daquela, vestidas e nem por isso, uma suricata, a cabrita com os bicos das mamas a desafiar as leis do Newton e as chinesas em chave de fendas, não sei onde cabe tanta mama em meia dúzia de gigas, não hás de estar teso, os abdominais como um piano de entrecosto.
- Sabes que mais?, descobri uma loura no Estoril, nasceu no mesmo dia que eu, terá isto um nome?
- Chatice?...
(duas semanas, devias ser mais humilde e pensar em entrar com algum, não sou daquelas que, vê se percebes)

Pode um casamento de vinte anos, terminar de um dia para outro?, Pode e o Blandino foi abaixo, a dor é subjetiva mas elas resistem mais, ou a humanidade sucumbira há milhões de anos.
- Não aguento mais, vê como queres fazer com os miúdos....
Os tomates na mão, virasse uns tremoços e umas bejecas  com os amigos e chegasse das putas, às quatro, calhando ainda lá estava. Os relacionamentos são estranhos...

O telefone não para: o António deve três meses de renda, obras na casa de banho do sessenta e cinco, a reunião do condomínio da Avenida Coração de Maria, de gritos, uma falsa coral e mais duas cobras na garagem, a Sandrinha da loja de animais estranhou os ratinhos que o gajo do segundo levava para casa.

Percebeu-se a voz feminina, arrastada e além-Atlântico, era a Neide na palheta com o Big Fernando e não devia as rendas.
- Até logo...
O Blandino agarrou-lhe o telemóvel.
- Vá, diz-me quanto queres por esse telemóvel!...

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