sábado, 16 de junho de 2018

Cena # 1791 - Adeus, Ronald.



Começo pelo princípio, ainda o Ronald não era nascido : o (irmão) Johnny nasceu sem o juízo todo. De resto, como todos nós, nós os que o(s) julgamos...


Eu tratava o Johnny. Há muitos anos, quando a gente lia o Expresso e enchia a Praça do Bocage, parei para o café e para a leitura na esplanada. Não havia essa coisa dos telemóveis: as pessoas falavam e falavam-se, olhavam a Praça em redor e os putos atrás das bolhas de sabão. Bem sentado, e ainda bem, passa o Johnny, que falava assim alto,
- Doutor, tens de me ver o cu!
- Está bem, Johnny... - baixei o tom, na esperança que (não) ficasse por ali.
- TENS DE ME VER O CU!, ESTOU À RASCA DO CU.  QUANDO É QUE PODES IR AO CU?! ?!
À rasca. À rasca fiquei eu: porque sou maluco e ligo a quem está presente e não está na vida do Johnny.


O Ronald era maluco. Era como eu, daqueles que escapam ao internamento.
Podia contar muitas histórias do Ronald: quando numa noite agitada de dezembro ele é os amigos(,) bêbedos e com mais juízo do que o comum, partiram de barco para o Seagull e as costelas, lixados pelas rochas e pelos mexilhões que se lixaram para a cadela, e chegaram ao cão que os mordeu torto e a direito, a direito ao São Bernardo. Ou quando embebedar am a macaca de uma delas, daquelas de quatro patas e está, mais maluca que as outras e eles, lhes arrancou bocados da cara.

À terceira é de vez, acordou com o médico e no hospital, para o transplante hepático. Desde então, não mais bebeu.


Sim, porque o Ronald era maluco, daqueles que escapam ao internamento: mas cuidou do irmão como poucos e sempre que estava doente, telefonava-me de imediato para o ver.

Os outros, Ronald, é que são os bons: batem com os cotados na missa e cagar-se no Irmão.

Descansa, amigo. Eu trato dele.




















1 comentários :

ze miguel disse...

Belo texto. Parabéns, e um abraço .

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