Sou um mentiroso acreditado,
- Doutor, acha que duro muito?...
É certo,
- Claro, amigo!
Ponto Um: ao exemplo do oráculo de Delfos, em que a pergunta admitia duas respostas, sim/não, o doente formula-a apenas desejando uma delas: sim. Caso contrário, andasse cá a mais, a defenestração, a linha do comboio ou a pistola da Bela Vista, atestava o desejo.
Ponto Dois: A questão é curiosa, é quase estatística infantil: detenho as cartas, é jogo viciado, a brincar. Admitamos, pois, as diferentes hipóteses:
a) o doente sobrevive (e eu também),
O José entra no consultório, quando o sistema nacional de saúde existir nos manuais de História,
- Doutor, você é como o velho., Nunca falha! Lembra-se da nossa conversa?...
b) o José morreu, é simples: não pede explicações e dois a zero.
Aprendi isto com o Odlum, o primeiro a saltar, em aposta desigual, da ponte de Brooklyn: conseguisse, enchia os bolsos e não mais trabalhava. Nunca pagou e jamais voltou ao trabalho.
- Papá, nunca mentiste?...
- Não, Vasco...
- Prometes que nunca vais morrer?
- Agora, agarra o ursinho e descansa, meu amor: está prometido!
Beijou-me.
- Ainda bem, papá., Boa noite!
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