quarta-feira, 9 de abril de 2014

Cena # 232 - Torga, Eça e Marx.


A mulher (Manuela Ferreira Leite), austera e pervígil, virou leite-creme: o salário não é uma esmola.
Não é, de facto: é, antes, a justa retribuição e o reconhecimento pelo trabalho e empenho de tantos.
Pessoas que são humilhadas e pressionadas, engolem elefantes e lágrimas, e os filhos o que calha, que degranam o caroço dos bolsos para o papo-seco, casas assucatadas, a luz, um fio pendurado do prédio vizinho e a água, da rede, serve até detetarem a marosca, no mínimo decoro e respeito, gentes que labutam a terra e arriscam o inverno no mar, pagamento em sal, e vão mais seis que pereceram no Meco, é da praxe e não eram estudantes, Inglaterra por um canudo, para estes, os produtos que não se vendem, as metas inatingíveis, vais para a rua, vamos para a rua, estamos entregues a conselheiros Pacheco e a importância de se chamar Ernesto, salafrários e marmanjolas de ocasião. Aos bichos, torguianos.
Volta O Capital e o barbudo, o trabalho como um preço.

A Fátima. Colabora connosco há muitos anos, criados são os meus filhos e, às vezes, mal. É inexcedível, a miudagem adora-a, não há dinheiro que pague. Digo-lhe isso mesmo.

Os peixes coloridos dão nome ao infantário dos meus filhos. Educam-nos, melhor que eu, gritam menos que eu. Se acho que pago demasiado, à segunda feira de manhã percebo que não. E, à tarde, voltam felizes para os meus braços

Eu gosto é do papá
De passear com ele pela mão
Correr, saltar e brincar
E, à noite, ver televisão
E ao fim do dia, bem abraçados...

- Papá, também gostas de nós?



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