sexta-feira, 28 de março de 2014

Cena # 222 - Histórias de Angola.



O Bruno já me avisara: a polícia, em Angola, é feiticeira, aparece do nada e transforma multa em notas. Fácil, o branco é que complica.
Seguia com a quatro vezes quatro, aos saltos pela picada, surpreendeu-se com a operação stop.
- Patrão, ultrapassou o traço contínuo...
Abduziu os braços, gesticulou e julgou enlouquecer:
- Mas qual traço contínuo?!!, só vejo buracos e terra batida!
Dissimulou a nota de dois mil kwanzas entre os documentos, menos mal.
- Lá em casa, patrão, durmo sempre com duas mantas...

Confirmado. O Fernando esperava-me no consultório, novo atestado de robustez física e, sobretudo, psíquica, para trabalhar na República Popular.
Cinco mil, maticou o camarada, por conduzir de óculos escuros, no Malanje...
- Está certo, coloque na multa o artigo do código, para mostrar ao Comandante Agostinho...
- O capitão conhece o Comandante Agostinho... Vai com Deus, não lembro o número do artigo...

Era um noviço, um zé-cuecas com óculos cor de laranja, a dar-se ares de polícia; polícia batido, macaco velho e astuto, é malvado, agarra-se aos documentos, faz-se ao lance e aumenta a parada.
- Não parou no stop!
- Mas qual stop?!, Não há stop nenhum!
Saiu do carro.
- Agora não., Mas já lá esteve!





0 comentários :

Enviar um comentário

 
;