sábado, 1 de março de 2014

Cena # 206 - O Estado (A Que Chegámos).



Carta registada, no correio da clínica. Do tribunal, mau maria. Quem não deve, teme o tribunal.
Levantei-a nos Correios e senha provirá, porventura, de cem: queira comparecer, sob pena de, no dia vinte e seis de novembro, no Tribunal Judicial de. Como testemunha, no processo do Alexandre, é meu amigo e, por, ele, iria ao cu de judas.
Poucos dias depois, esperava-me o agente xis da pê esse pê no consultório, pediu delicadamente para ser o primeiro, uma simples notificação; trazia a mesmíssima folha, duas a dez unidades de conta, se e se.

Carta registada, no correio da clínica. Do tribunal, mau maria.
Levantei-a nos Correios, uma dezena de pessoas mas os funcionários têm que vender a lotaria, comprei o cê dê do Zeca, o coro dos tribunais: a data anterior fica sem efeito, queira apresentar-se no dia vinte e nove de novembro, no Tribunal Judicial de. Como testemunha, no processo do Alexandre, devo-lhe favores e, por ele, vendia o carro por cinco tostões, o rabo faz-me falta.
Dois ou três dias depois, esperava-me o agente ípsilon no consultório, e quem não deve, teme a pê esse pê, pediu a vez aos presentes, uma simples notificação; a similitude com a carta que levantara era evidente, adiado, se e se não, sem prejuízo de vir a ser ordenado a sua detenção pelo tempo indispensável à diligência.
O agente era simpático, confrontei-o:
- Este processo é de dois mil e quatro?
- Sim - espreitou a folha -, tem dez anos.
- Dá tempo de pensar o filho e entrar para o ciclo...

Parecem-vos as histórias iguais e não vos parece bem.
O julgamento foi, de novo, adiado. Para onze de março.

O Alexandre telefonou-me ontem, estás marcado para que horas?!
- Nove e quinze, amigo...
- Transferiram-no para a tarde, a juíza teve que meter outro processo pelo meio...
- Impossível, tenho juntas médicas marcadas, trinta e muitos utentes, tantos como nos correios!
- Ainda assim deves comparecer, mesmo não se realizando, marcam-te falta!

Deve ser do onze de março, MFA, Força, Companheiro Vasco! e Povo, COPCOM e PREC, leia-se Processo de Reforma em curso, tanto que se fala na reforma da Justiça, a velha senhora está doente, amaurótica e coxa, tem lá pernas para andar, aparecesse na junta médica e reformá-la-ia. Desconheço-lhe o prognóstico mas ouso a terapêutica, eu que nem sou de esquerda e mais me creio na Maioria Silenciosa, Manifesto, operários modernos e Uberbau.

Nove e dez, já lá estava, ninguém se justifica mas,
- Tem de se justificar!, tome este impresso, excelentíssimo senhor doutor juíz, etcetera.

Saí, à tarde não ponho lá os cotos, um café e um pastel de nata, apaguei as provas do creme.








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