sábado, 15 de fevereiro de 2014

Cena # 193 - Dez Centímetros de Entrecôte.



É oficial: a malta habitua-se a tudo.
Pressagiei a surpresa, pobre Leonor, jantámos na Travessa, às Bernardas. Sou um filho da puta, antecipei o nome do restaurante no verso do papelinho do multibanco e estraguei a festa, sou um miúdo pequeno, a Leonor é que sabe.

O peixe-galo e o entrecôte, soberbos, podiam vir com a travessa. Preço excessivo, mais parecia o Comme Chez Soi, e não se come disto lá em casa, valeu a sábia e equilibrada fusão dos sabores tugas e belgas; gastronomia doce e a conta amaríssima, pagámos cara a fusão e está tudo fundido, não acabámos atravessados e à Maria Bernarda porque era noite dos namorados.

Na mesa contígua, mil anos num grupo de treze, encabeçada por um banqueiro da praça, a vida está difícil, mesmo para os bagalhudos de Bruxelas.

Mentira, todos os caminhos vão dar à Grand Place, ao barroco e às  moules-frites. Pedi uma Chimay, menos trapista e mais trepadora, dez graus lá fora e na garrafa, entaramelei a voz e já falava francês e flamengo, desfoquei as cúpulas do Sacré-Coeur, valha-me S. Miguel...

Tenho paixões mas não morro de amores por Bruxelas... Vasculho no Marché aux Puces e no Quartier Marolles, é pouco: como na Travessa.
A banda desenhada dista quilómetros do tromp-l'oeil do Mur des Canuts e da Cour des Lopes da enigmática Lyon..., sim, é muito semelhante ao que já esperava, confessava Magritte que também não cria no Além, tu, pintor de ideias e de outras dimensões, ajuda-me a ver além disto...

Mas vale a pena?... Sim, a isso obriguei a Leonor: na esquina da l'Etoue, está o fedelho a exibir o material e a mijar-se, incontinente, em repuxo: Manneken Pis, não pelo tamanho da maldita...
Este mar de gente atropela-se para ver dois centímetros e meio de coisa,
- Amor, vê bem e dá graças a Deus com o que tens em casa!











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