sábado, 8 de fevereiro de 2014

Cena # 185 - A Gula.



Parece trinta, mas o Paulo completou cinquenta e alguns verões.
O restaurante estava à pinha, buffet livre, salve-se quem puder: uma mesa com queijos, outra com doçaria conventual e, ao centro, duas mesas corridas que competiam nas iguarias, exibidas na tacharia de barro. O rebanho acotovelava-se para fartar o prato e o bandulho, apesar da variedade e abundância que chegava para todos.
Bem, para quase todos... O padreco, zeloso das ovelhas e afastando as tresmalhadas do pecado, a gula é capital, renunciou à ortorexia e à frugalidade e sacrificou-se a tudo, varreu Portugal de lés a lés, correu a sopa de cação e suou nos rojões, demorou na festa dos tabuleiros, entupiu de bolos e entregou a alma à sangria, melhor que a zurrapa da missa. Esbarrigado e gil-vicentista, a cabeça a trezentos e sessenta e visão três dê que mais parecia o Chemosphere, e o prato o Ryugyong, controlou e cominou aos inurbanos que assaltavam os tachos e tentavam abocanhar os queijinhos e cabidelas e lá minorou os estragos nas análises.

Bolo e foto de família, os miúdos sujaram-se na relva e era a roupinha de ir ao pito, coube à minha tia a ordinarice da tarde, esta malta não se contém no tinto, gritou ao meu primo Paulo, sugerindo-lhe para apontar a Kodak aos gaiatos:
- "Tirós três"!
Agora aos cinquenta e tal, vem-me esta ensinar o pai-nosso, encíclica, sermão e missa cantada, ponha o padre ordem no rebanho!





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