sábado, 14 de abril de 2018

Cena # 1723 - Uma História de Amor.


Ao próximo, acrescento um ponto: conto esta história como o meu pai contou,

O Doutor Evaristo (Evaristo de Sousa Gago),
- Era um santo!,


E um deus, à multidão que enchia a sala de espera e a alma mesmo se, noite fora, sabiam que saiam dali para o pequeno-almoço da banha entalada no papo-seco, engolida no traçado.

Estava escrito, quando rumou a Grândola: fazer o bem: tantas vezes consultava gratuitamente mais as vezes que juntava a nota à receita, para a aviar.,
Era o médico dos pobres. Assim morreu: atafulhado de dívidas na farmácia.


Naquele tempo,
De Grândola a Lisboa são duas horas, e tal de distância. À quarta, ou à quinta, largava a terra: juntava a meia dúzia de enfermos que necessitavam de exames e de salvo melhor opinião, outra, e à dúzia seguiam na carrinha esburacada como alcatrão, ao banco de S. José.

Era conhecido.,
Já noite,
O polícia, novato nestas e noutras paragens, parou-o em Alcácer do Sal,
- Não pode levar essa gente toda no carro,
- Não?!, Esta gente precisa de ser vista, com urgência., Pois bem, fique com eles...
E o que se seguiu, com o carro cheio e a conduzir apertado contra a porta. O polícia ficou para trás, gozado pelos colegas que sabiam da história.


Conheciam-se. Juntou-os a Medicina e a candidatura à Presidência do General Humberto Delgado, também ele mandatário,
Era alvo da vigilância da PIDE. E a PIDE, alvo da vigilância da população grandolense, que o idolatrava e corria a avisar...

Faleceu um ano após o 25 de abril. Não se perde tudo,


Conta o meu pai, não tinha conta:
O caixão desceu à vila, terra da fraternidade: e não pisou alcatrão, sem buracos, todo ele atapetado de flores que a população não esqueceu,

Alguém escreveu sobre Ele: era um coração que não cabia no Alentejo...





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