No meio desta serra, onde se cria
Aquela saudade d'alma pura (...)
Frei Agostinho da Cruz
Acampámos nos Picheleiros, eu, o Vasco e o Tomás e mais quinze comparsas da sala dos Peixinhos,
Estou lixado: os miúdos foram atacados pela febre arrábida, deliraram e já pensam no retorno,
Preguiçaram na tenda, balouçaram nas camas de rede, lançaram o bugalho e a flecha, jogaram o galo, correram atrás uns dos outros e dos javalis, galo deles, não os havia ou zarpavam da serra,
Caminharam na sombra dos pinheiros, esconderam-se no zimbro e nos sargaços, escoriaram as pernas encardidas nas roseiras-bravas,
A serra-mãe alimenta e cura-nos,
- Como assim, papá?!
Papoilas e perpétuas, vais ver o que é bom para a tosse, o cardo-branco para a asma,
A murta, licorosa, que abre os brônquios, e o rosmaninho para acalmar,
Hipericão e a vulnerária, diz o nome, cicatrizantes, o cardinho e a alfazema que baixam o açúcar e a vinca, hipotensora, o alecrim, o chupa-mel e o azevinho, diuréticos e o mijaburro que não serve o efeito,
O cardo-matacão para apanhar passarinhas e a tasneirinha para acalmar a dita, menstruação,
A pascoinha que dá força ao coração e a flor-de-sabugueiro, desodorizante,
Verdizela para cagar e a erva-leiteira para a emergência, a flor-de-macaquinhos para a caganeira e o cachapeiro para as hemorroidas,
Os orégãos e o poejo para os gases, há malta que desconhece,
Às quatro, um som abafado rasgou a noite,
O Tomás acordou com o peido,
- Pai, é alguma serra elétrica?!
Fogo-preso à noite, e o coro, de manhã,
Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, com os Peixinhos ninguém se mete,
Sete, seis, cinco, quatro, três, dois e um, como os Peixinhos não há nenhum!
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2 comentários :
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Obrigado!
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