Aguardo a Color Run, alto e coxo, antes de andas que de andarilho. Importa o espírito e os miúdos já preparam as canetas...
O amarelo é verão e sol da meia-noite em Utjoki, é luz e a sala de jantar de Monet, as cores andinas que Gauguin roubou ao Peru, é ovo, a cor reproduz-se.
É a cor dos táxis nova-iorquinos, leve e poderoso, a camisola do Agostinho e é Pena, inspirador, os balões-lanterna na noite escura de Chiang Mai. É caril...
O laranja estimula o apetite; é a lava do Kilauea, é fogo, sexo e a capa da Gaiola Aberta.
É o fim de tarde na Comporta...
É sangue e tourada, Tomatina e as dunas do Namibe; é baton, tentação e pecado, o diabo e transgressão.
É raiva, orgulho e reencontro.
É paixão. O vermelho é elegante.
Rosa é menina e carinho, as casas-torre de Sanaa e a moradia Português Suave, a cair junto aos Belos.
É fúcsia, intenso, romântico e o Magenta, bélico.
Lilases, orquídeas, lavanda: fantasia, mistério, milhões de sinos, novos caminhos. Classe. É Cohen.
Rosa-violeta, cai a noite em Kakadu...
Azul nórdico, espiritual, de Friedrich; marinho é harmonia, Bora Bora.
É Cézanne, a noite e o sonho, sabedoria.
É quase verde, nos azulejos de Majorelle e de Istafan.
Fresco e refresco, lima e caipirinha, verde-mar-e-montanha, Portinho e Belize.
Os terraços de Pamukkale e de Huanglong e os olhos do Simão, o verde é natureza.
Talvez sustentabilidade: com vermelho, é bandeira, Templo do Céu, valha-nos São Basílio.
A Color Run. Imagino-a paleta de Matisse, o caleidoscópio de guarda-sóis em Xuchimilo e o carnaval de Mazatlàn, campos de túlipas e a roupa ao sol, em Chari e Varanasi, a caixinha de aguarelas dos curtumes, na Medina de Fez, os brinquedos espalhados na sala...
As cores do arco-íris são curativas...
Há coisas do arco-da-velha, não cabe o castanho e o cinzento: é filme mudo, Turner e vendaval, as favelas cariocas, a vida de muita gente.
Gosto do bege, Siena cru, areia, pedra, Petra e Shali.
O branco é frio, puro e virgem, Bonjour Tristesse, de Siza.
O preto é porco e é gala.
Hesito na cor. Levem a patroa às compras, a empregada desfaz a dúvida:
- Bem, o preto é sempre o preto...
Demoro no banho porque sou grande e porque já esqueço o que ia fazer.
Desconheço como se apoderaram das canetas de feltro: viraram folhas, às tantas zangaram-se, o Simão agarrou na caneta preta e desenhou nas paredes do quarto a estrada que, meândrica, sobe a Machu Picchu...
Apetecia-me esganá-los mas, com as coisas que por aí se veem, um dia destes ainda aquilo vale dinheiro!
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1 comentários :
O poder das tuas palavras , Jorge, é lava do Kilauea ou os terraços de travertinos de Pamukkale ou a meandrizada estrada de Machu Picchu... é o belo. Gosto de coisas belas. Abraço.
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