É a sarrafusca, começaram os saldos, as dondocas espenicadas e o pot-pourri dos saquinhos coloridos a subir o Chiado. Não há dinheiro, mantem-se o vício, o dinheiro não evaporou, apenas mudou de mãos. As lojas estão cheias, empurram e insultam-se por cacarecos, tudo é vendível, mesmo a honra. Nos cafés, os maridos, doutores, sobredotados e livre-pensadeiros por usucapião, esperam e desesperam pelo fim do mês, o tenesmo já aperta...
Ainda assim, Portugal é triste, é o fado, as pessoas passaritam embezerradas e, até nas bombas estacionadas, predomina o cinzento.
Almoçámos na Kaffeehaus, à cunha, ressaciei-me na sobremesa, conflituámos por ninharias, há pão e perde-se a razão.
O João toca saxofone na esquina dos Mártires, a namorada, acordeão, dois quarteirões abaixo. Sinfonizam para o almoço, sentados na calçada, laranjada ao meio e a sanduiche dividida, parecem felizes.
- Desculpa... - disse-lhe ele.
- Amo-te muito, ficas com fome, queres o resto do pão?!
Partilhar esta Cena...
1 comentários :
Música, amor e pão. Mais uma vez: certeiro!
Enviar um comentário