terça-feira, 19 de março de 2019

Cena # 2049 - O Infalível Método da Temperatura...


O Ervilha nunca falha.,
Nasci em sessenta, tenho vinte e nove em cada perna, mais coisa menos perna. Os meus pais eram casados,
Cada um à sua maneira...
A pílula chegou a Portugal em sessenta e dois, a coisa aqueceu, falhou o método da temperatura: àqueles tempos, filho ilegítimo e é legal, três quartos da pequenada nascia no outro quarto da casa.

Cresci com a farinha 33 e a gemada com vinho do Porto ao pequeno-almoço, cuidassem os meus pais e tinha mais do metro e oitenta e três,

Desafio: ver quem faz mais longe,
Tocar às campainhas e fugir na noite, limpar o ranho às mangas e ralhar com os miúdos por fazerem o mesmo,
Sete e quinhentos no barbeiro do Rio da Figueira, colado à olaria e voltava pelo canavial, com o novo comando para a televisão,
A gaita do amolador, as vasilhas do leite, vendido à porta.

A Twiggy rabicurta e a rabuda do Guedes, corados a pedir-lhe mais vinis para nos virar costas, o mundo na View Master, a Garganta Funda e o pau espetado no meio do Casino Setubalense, Gazcidla, light my fire, je t'aime moi non plus...

Ie-ié, ia a pé para a Academia, lápis de cor da Grão Vasco e reguada, o jogo do burro e o Mikado, a chave-palito da conserva de sardinha e que bem que sabia com o feijão-frade, Laranjina C e Bussaco, a Volta,

O meu tio Agostinho, a carica e o Eddie Merckx, uns Sanjo e três toques na chicha e já era o pé esquerdo do Jota Jota, o Ruth Malosso a fintar os lagartos, o químico do totobola e o 13,
O trevo da sorte e Brancanes, a fugir, serra abaixo, de aranhas venenosas e perigosas lagartixas,

O Zé dos Gatos, a Pantera e o Franjinhas, a Eurovisão e a Miss Cavalo de Pau, tainha do Sado,
Os saquinhos de serapilheira do carnaval e o Finura, a Popular e o Castelo Fantasma, os santos e os saltos na fogueira, o Judas e os rebuçados mal amanhados da taberna,

O escudo, as pesetas e os caramelos de Badajoz, o anis escondido e o whisky martelado de Sacavém que as visitas juravam verdadeiro...
Verdade ou consequência, os beijos inocentes e as cartas de amor...

A Bic, os furos e as bolinhas às cores, o bronzeador e a cenoura da praia, os rolos de fotografias, os telefones de disco, os discos e o mata-fome,
A carcaça aquecida ao domingo,
Os pratos e os talheres desencontrados e aproveitados, a RTP TV rural, o caetano e as conversas em família sem ele, a alcatifa e as paredes de cor garrida, os guaches da Viarco.

O meu pai era o Prof. Karma quando apontava o mindinho, o dedo que adivinhava! e eu caía que nem um patinho...
Que sova quando roubei os carrinhos no Pão de Açúcar, ele e eu sem pena!
Bem dada, levei para contar, é o que faço,
Mussitei um calão, queria assinar mas saía-me o seu rabisco, envergonhava-me o pé grande e não ser bonito,

Quem o feio ama, o Anglia lhe parece, mais o Renault 10 que o velho insistiu cor de café com leite, o meu irmão a dar à língua para sacar o catálogo do NSU,

A bola, vira-se o bico ao prego e esconde-se a fisga, o Natal de 69 e a bicicleta mais rápida do que a CB 750, Omo lava mais branco, o preto às voltas com a cadeira e o Paulo com as notas, fechavam os bancos e a torneira à sexta,

Fim de semana, Torralta e paixonetas, a Casa das Manteigas e as esculturas de banha no talho do Palmela,

Óleo de fígado de bacalhau, lâminas de cortar a barba e a respiração, a esperança de morte aos sessenta: nada é Definitivos,
Paris e o Último Tango sem filtro, o catálogo do Solnado, a amigdalite e a seringa que metia medo ao susto, está lá é da guerra?, adeus, até ao meu regresso, talvez com o magala deitado
E a malta queixa-se...


Nasci com o cu virado para a lua.
Havia Madalena Iglésias, ele é bom rapaz e a Simone, outro galo cantava,
Quem faz um filho, fá-lo por gosto...
Falos e temperaturas à parte,

Sem proveta e com proveito,
Alguém por baixo e alguém a saltar para cima e
- Lá vai alho!,
A vida era assim...


Aos meus pais,
MUITO OBRIGADO.





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