terça-feira, 2 de outubro de 2018

Cena # 1897 - A Celebérrima e Saudosa Revista Gina...


O Gil chegou de Coruche para a vivenda do lado, foi o meu primeiro amigo. Reencontrámo-nos, há dias, vende carros.
- Lembras-te, Gil, sorteávamos à moeda quem entrava no stand para extorquir o catálogo? O gajo da NSU ria-se, o da BMW nem nos queria a passar no passeio...

- E o vosso Toyota, laranja de capota preta, veio para ficar e não ficou, o teu pai trocou-o pelo DS21, o boca de sapo, mais luxuoso que o cinema do Apolo 70, o bowling que lá havia, a Canada Dry, os filmes do Trinitá, a Esplanada e  o Nelson,
Corresse atrás de nós e cada um fugia para seu lado!,


À saída, a sanduíche de fiambre no Tamar, o pão a chegar e a manteiga a escorrer, a malta a pé até à Toca do Pai Lopes à pedrada nos candeeiros e as calças em baixo antes do estaleiro, uma mão nas cólicas e a outra no leitor a pilhas com a cassete dos Slade Alive...
- A tampa presa com fita gomada..., E os Uriah Heep?, Easy Livin'..., nem de propósito!,


Nunca me agarrei à almofada, que vergonha!, enfiava-me na cama às escuras, a ouvir o vinil riscado dos Hollies com a moeda da caravela a pesar na agulha, de cinco escudos se o risco parecesse inultrapassável,
Apaixonado, olhos de carneiro mal morto, e elas a fazer olhinhos para os marmanjos da Bravo!,

- As revistas de gajas nuas que espreitávamos nos intervalos do liceu, se eram ou não pornográficas não sei, que as gajas eram escolhidas a dedo e literalmente a dedo, e que olhavam para mim, isso meto as mãos no lume!

Inspirado, agarrava-me à guitarra, eu que nem nunca toquei aquilo, fazia trejeitos ao espelho e fingia dedilhar o My Sweet Lord, meu deus, era parvo,


- O cabelo comprido, à índio, e as calças boca de sino...
- O que desejei aquelas calças, os cavalos a puxar e não se rasgavam, e não rasgaram, roubaram-mas do balneário do liceu!, Saí de cuecas e ténis Sanjo e a contínua, a bêbada, lembras-te?, a ameaçar-me com o reitor, fugi na Casal de duas sem as calças e com o capacete enfiado, por causa do Aguardente!
- Uma vez, apanhou-me a caminho da Figueirinha...

- A Figueirinha!, Um gajo com o rabo pelo chão, puxado pelos outros dois, para calcar a pista de caricas!,
- A Volta a Portugal e à França, o Agostinho e o Merckx, o Poulidor, Rei da Montanha e do Segundo Lugar, no verso das caricas do Fruto Real e da Laranjina...
- E os teu ovos, Mestre Cuca?!, Estrelados, mexidos com as salsichas à parte ou misturados com as mesmas e, só nisto, já iam três brilhantes criações!


- As azedas, pelo caminho até Brancanes, e o Beatle, o cão...
- Voltava sebento, minado de carraças e sarugas, a minha mãe danada e nós a sacar-lhe as praganas enterradas no pelo dourado e o cão, filho da Pluta, a mostrar os caninos e não era a sorrir!



- O teu quarto, Jorge, adorava-o!, Forrado de pósteres, passava horas a observá-los...
- Ah, Gil, os pósteres!...,

O meu irmão ocupava o sótão, três divisões só para ele, o teto cortado em triângulo e os pósteres inclinados, pendurados  por pioneses,
Percebi-os abaulados, caiu um pionés e uma revista pornográfica, cada tiro cada melro: a coleção inteira da Gina, desde o número um mais peças de colecionador, de certeza que pertencia ao clube de fãs, logo o gajo que não gastava um tostão em nada!,

- Cabrão!!!





 

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