quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Cena # 404 - Os Flintstones da Capadócia.



O voo da Turquish para Kayseri atrasou,o avião chegou do fim do mundo, entretanto,
Engoli qualquer coisa e enfiei uma lira na maquineta de massagem, ainda distante; a fila formou, afunilou e quase desaparecia e eis-me com as pernas presas àquela geringonça, a Leonor a afastar as pás e a barafustar,

É o que tem mais, a Capadócia tem cor, o verde-cobre, o branco-calcário e o amarelo-enxofre do fim de tarde,
Quando chove, a terra ganha um vermelho-ferro, impossível de esquecer.

Em tempos longínquos, os vulcões cuspiam lava,
A erosão esculpiu cogumelos, coruchéus de areia, rematados numa pedra basáltica: as chaminés de fada, do vale de Pasabagi!

Aqui se cruzam Oriente e Ocidente, a pré-história e a Idade Média, os hititas que há quatro mil anos só não se enfrascavam porque os não havia com tampa porque o vinho era sobejamente conhecido, os pombais de cores vivas, os excrementos, fertilizante, e o pombo, correio às caravanas que atravessavam a Anatólia
(os benditos portugueses arruinaram a Rota da Seda),
Dervises, viagens espirituais e
Pré-histórias: os Flintstone e os Rubble, vizinhos em casas trogloditas, não longe da aldeia-presépio de Uchisar...

O Museu ao Ar Livre de Goreme dista dez minutos de autocarro,
O enxame de monges enchia os seis pisos do mosteiro faviforme,
O igrejário, disperso e escavado na rocha, surpreende pelo estado de conservação dos frescos e no fresco lápis-lazúli da Igreja da Fivela, pelo magnetizante vermelho das Igrejas da Maçã e, Santa Bárbara, o Pantocrator, na abside central,
Mil línguas, e mesmo no fim do mundo existe um Barney-tuga, aterrou do mesmo avião,
Enquanto devora o brontoburger, recostado no murete da Bedrock, grita para o patrício que desce mais uma caverna,
- Ó Rocha, essa aí tem pinturas?

(Na moda: alguns hotéis, esgaravatados nos penedos, oferecem quartos espaçosos, com jacuzzi e torneiras de vinho!)

Tarde livre,
O turco despejou e impingiu tapetes, quatro mil e quinhentos euros é muito pilim para tão pouco pilim, os miúdos dão o jeito, Está a vê-los de kaftan, em cima do tapete cor de menta, a voar pela casa?...,
- Nesse caso, leve um para oferecer!
O chá é bom, as folhas colhidas no Mar Negro
(a Turquia perdeu o Iémen e o bom café)
e o borek de queijo, delicioso.

Ratei nos figos, está um barbeiro de cortar à faca, Goksu, a avaliar pelas cadeiras giratórias, pelos pentes e tesouras, dá para cortar o cabelo, a cada cortadela parava para dar à matraca com quem passeava, saí com uma camada de nervos
E outra de óleo
No hamman do hotel, a (mal)dita massagem deixou-me de rastos, paguei comida de urso,
Sopa de menta e kebap, chichi e cama,
No dia seguinte, despertar às cinco, para o voo de balão pelos céus da Capadócia!

O ar continental aconselha luvas e cachecol e (não) estão de parte,
Os relâmpagos enchem o quarto noite fora, imunes ao nazar bongucu, o olho que tudo espreita e protege, afasta os maus espíritos,
Saímos, não saímos, parece que sim...,
Assim-assim, cruzámos figas e vestimos, o papelucho enfiado debaixo da porta, não estava quando entrámos na casa de banho,

BALLON CANCELLED
RECEPTION.

Ora esta, o ezan convidou à oração e eu inventei Meca, ela emborcou ansiolíticos a toque de água, atirei-me aos antidiarreicos e descobri o esguicho da sanita, e se deu jeito e, agora, não há balão?!

    











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