sábado, 2 de agosto de 2014

Cena # 315 - A Ti, Artur.



Falta pouco mas faltas ao Natal, Artur; as bolas e os bolos, a família que estimavas e a missa, que galo,
Os presentes e tu não estás. Quatro meses para o Natal e foi ontem.

O Lopes da farmácia, às voltas com a letra e com o antipsicótico, esquizografia e eletroencefalograma, precisa das gotas e veja as diferenças,
Oito. Faz onze meses que passámos o fim de ano em Munique, um frio de rachar, a Leonor largou as rachas e os saltos, e de pijama fugimos da Marienplatz e das bichas de rabear, para o hotel.

O Carnaval, não marrei com ninguém mesmo porque com os óculos verdes, fundo de garrafa, nem o vermelho via quanto mais o transparente, enfiei os cornos na porta de vidro do restaurante,
Não viste e eu também não: os momentos são irrepetíveis, a vida dá voltas mas não volta atrás,
Mata-se o tempo e o cabrito na Páscoa morreu o Luís, que coisa tão estúpida, tanta gente no funeral, tanta gente que ele não via há muito, há muito mas não há tempo, a vida são dois dias, vive-se a prazo, porquê?, para quê...,
Passa-se dois dias e continuamos na mesma, corre a lesma, depressa, para a meta,
Passa depressa, uma merda, não aprendemos nada.

Não há outono este ano, lembras-te?, e não há mais, aproveitemos este, entretanto,
Navego na cama, tenho ondas desenhadas no quarto que o trio sintonizou, em azul; quase os matei, quem vai à batalha naval e vale tudo, na altura tive vontade de afundar o navio de três canos,
Porquê?, para quê...,
Ficou giro, o mundo gira, já provaste o Magellan?, rio-me deles, de mim e porque o gin.

Faz quinze dias, Artur, reencontrei-te na festa do Francisquinho, a malta distraída e o Simão a virar ginjinha, parecia-lhe refresco e tu fresco,
Parece que foi ontem mas ontem faleceste tu, como é possível, vendias disposição, respiravas saúde,
- Chegas aos cem!
Com, sem anos, não se morre aos cinquenta e sete ou morre-se, abditae causae,
Sei lá,
O que rimos da ursa do estômago, do a bê cê e da finória que te pediu UltraVerduras (Ultra-Levure) para cagar fininho!

Andamos todos com o rabo apertado,
Um dia apontam-nos o dedo e não é à  próstata,
Descansa, amigo.




2 comentários :

Anónimo disse...

todos esquecemos,que a vida são umas ferias que a morte nos concede. melhor é vivermos um dia de cada vez.ontem nao e nosso,hoje respiramos,amãnha sabemos lá.......

Teresa Pascoal disse...

A Morte´é uma visita, inesperada, que não precisa que lhe abram a porta. Entra de rompante e nós , impotentes, ficamos sem fala, sem sangue, sem visão, sem...nada..nada...nada!

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