Os meus pais queriam-me católico e na cruz, cruzes canhoto, graças a deus criei-me ateu e à minha vontade. O Senhor tem caminhos, eu já tenho uns aninhos, insisto noutros.
Os meus sogros são boa gente, vão à missa e acreditam em tudo, mesmo em S. Tomé; levaram o Vasco, está melhor da perninha, acho que não é da missa, insistem em Fátima, eu na Tia Alice.
Tempo de Sant'Iago e da feira, segunda, terça, até sexta, o Vasco montou a girafa, a zebra e pôs o burro às voltas na carteira; bateu nos carrinhos de choque sem seguro, não vai lá Maomé, fugiram os três, montanha acima no carro da polícia, o Simão e o Tomás babados com tanta fartura, churros, às turras e o que não adivinham.
(no ano passado saíram eles, e eu, inchados nas bi-shirts, onde inscrevi: O MEU PAI É DONO DESTA MERDA TODA!,
ontem, fiz uma para mim:
JE SUIS FOU.
Ela, farta de saber,
- Passas-te, um dia destes para o outro lado...
Outra bi-shirt ou, se calhar, porque se despedem de mim com ela vestida,
Por falar nisso,)
No adro da igrejinha, veem-se mais rodas e canadianas do que em Toronto e no Hospital da Parede; atira-se o barro, sobra fé, falta uma segunda opinião.
Santos de casa não são milagreiros, esperam e desesperam pelo padre,
É pecado mas o Vasco invejou a cadeirinha elétrica com o joystick amarelo da senhora, sem pernas para andar, partido da feira, quinta, sexta e sábado; há anos que a velhinha não esquece a missa do Padre Delícias, este não tem jardim nem anda em festas mas, bombom, não sai da mesma.
- Avó, a cadeira da senhora tem comandos...
- Está muito doente, amor, quem sabe um dia o amor de Deus...
Deu na passadeira, passada a ferro por um carrinho de choque; o carrossel e o camelo a fugir.
Vergonha não é pecado e o Vasco não tem...
- Olha, senhora muito doente, quando estiveres boa, posso dar uma voltinha?...
Ela crê e queria, ele ainda não tem dezoito anos para encolher o caminho.
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