Cafés elegantes e a Sachertorte.
Orgulho e tradição.
A torre-agulha e os losangos do telhado íngreme de Santo Estevão dominam a Stefanplatz e o Innere Stadt, o centro histórico balizado pela Ring, veio a muralha abaixo e já não há palacetes dentro ou fora. Treze horas, badala o Pummerin e o estômago dá horas: sento-me e mahlzeit!, o panado de vitela, Gluhwein, o vinhão quente com especiarias e apfelstrudel.
Bom era rapar os tachos, na cozinha. À mesa, em Hofburg, ninguém ousava deglutir antes ou depois de Francisco José; austero, o homem despachava rápido o imperador, o tachista tricotava os talheres e desesperava contra relógio, engolia o lombo e cuspia a espinha.
Duas mil salas e salamaleques, o Schatzkammer encontrei-o na Escola de Equitação e nos majestosos Lipizzaner.
No verão, a corte mudava-se com estilo, rococó, para Schonbrunn. Clono-me nas paredes espelhadas, Amadeus!, o ouro e o cristal multiplicam-se. Os jardins galomaníacos, apanágio da época - Schonbrunn à semelhança de Versalhes - conduzem-me, labirínticos, a Gloriette. A melhor vista, para o postal!
O Volksgarten é o ponto de partida para o puzzle de apartamentos multicolores com telhados de arbustos, em Kegelgasse, tem razão Hundertwasser, a linha reta não existe na natureza, conquanto as caixas de fósforos que usava nos modelos que mais lembram as linhas rígidas de Karl Marx Hof.
Ponto alto no minarete bolboso da Spittelau Heating, a Catedral de Santa Merda.
Catedral. Demel, a melhor pastelaria do mundo.
Viena é música no coração: as sinfonias de Mahler e de Beethoven, a Konzerthaus e a imponente Staatsoper, o Anel de Nibelungo e o fim do mundo em quarenta e quatro, Haydn e as doze badaladas, a praça apinhada para o desfile das figuras, no Anker Uhr.
Deixo a Rathaus e a Rathauskeller e não é isso, alcanço a Freudhaus, na Bergasse, conta-me histórias, falasse o divã que também se exilou com o Sigmund, jogador de cartas e de tarock e cozinheiro de resultados.
No outro extremo da cidade, a sexualidade e a Eva de Herr Klimt, no Belvedere e O Beijo com amante.
Cor e movimento, Prater, em vienense: montanhas russas e carrosséis, comes e krugel, a gigantesca feira popular tem tudo! Boomerang e Bungee Town e já imaginam, fiquei-me pelos elétricos vermelhos pendurados da Riesenrad e porque tem que ser, vejo os castanheiros da Hauptallee e o planetário, estrelas e hospital, Superman e mais adrenalina, não obrigado!
Era o médico na excursão, as pessoas dividem-se. Cinquenta por cento,
- De caganeira!
As outras, a coçar a barriga, de olhos esbugalhados,
- Pareço um besugo, doutor, nem consigo dar ao dente...
Conversa de merda. Não lhe recordo o nome mas integrava o segundo grupo. Duas saquetas, entrou no café, passos curtos e rápidos e com as pernas bem juntinhas, rococó e Schonbrunn, o barroco e o Bom Jesus de Braga, por um canudo, valha-me São Borromeu, na Karlskirche!
Mudou de cor e de expressão, saída apoteótica:
- Dez minutos para ali espremida, mais parecia um chinês vermelho de raiva e a guerra de catorze dezoito, terminei eu e o cê dê, a malta começou a bater palmas!
Um ou dois submarinos. Cheguei à Portela na véspera do onze de setembro de dois mil e um; no dia seguinte, uns fanáticos com as psicopatas no joystick, implodiam as torres gémeas.
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