domingo, 13 de outubro de 2013

Cena # 104 - A Classe de Setenta e Sete.

Foi ontem, doze de outubro, no restaurante do Zé do Nabo. A Isa, incansável, reuniu a tribo, quarenta e um, conta certa, Ali Babá e os outros.
Boa disposição, os anos não passam por esta malta, diferenças só no perímetro abdominal e nas bombas estacionadas lá fora, até porque alguns, com o pincel no cabeleireiro, lá fintam os brancos... Alguém observou:
- Estás mais coxo...
Mas o espírito de setenta e sete mantém-se, logo apareceu outro a confortar-me e a lembrar os Xutos, não, não és o único...

O Carlinhos e o Henrique guardaram-me o lugar junto deles, revi o Orlando e mais meia dúzia que julgava desaparecidos que, os outros, lá os vou vendo no consultório. A meio já os lugares se misturavam, era mais os que estavam de pé, lembrei-me do Gaspar, o prof da Religião e Moral, branco e, também, distribuindo incenso na expetativa de converter o pessoal, mas rei mago é que não era:
- De pé ou fora da porta!
E a turma, toda ou quase toda, de pé, de castigo, são, assim, os caminhos do Senhor...
Foi o mote para cascar na velha guarda: a Elvira Popó, da Música, solteira e sempre agarrada ao instrumento, a "Rosa Pezuda" e a "Quarto pás Duas", o Ochoa, pobre homem sempre desapontado e a questionar o sentido da vida (perguntava ao Gaspar), que até facultava as doze questões do ponto e
- Agora, destas saem quatro...
E o José Carlos que entregava o teste decorridos cinco minutos, em quatro folhas separadas e a praguejar que as tinha escrito ali...
Os cegos. O cego, bonzinho, que, azar nosso, tinha olhos pela Tia Alice, o outro, a personificação do rabudo e a malta a insistir que via...
Não era cega, em terra de cegos quem tem olho é rei, mas também não era o caso, tinha os dois só que como o camaleão: olhava a Ana, à esquerda e o David, à direita, enquanto apontava o dedo ao desgraçado do Alcindo, que estava no meio... Os três, confusos:
- Eu? Eu? Eu, sotôra?
Quem não se lembra da Vesga... Certa vez, com os olhos trocados, os dentes encavalitados e aquele ar esgaziado, quase implodia o liceu, com epicentro na sala de práticas de Química!
Mais o maricas do Desenho, até porque eu não acertava com a jarra e, muito menos, com as sombras e, só por isso, já merecia o epíteto e a boazuda da Introdução à Política, ainda melhor que as gajas peladas das revistas que devorávamos, de olhos esbugalhados, nos intervalos...
A velha que lecionava o Português e a cambada a matraquear-me a substância cinzenta:
- Ouvi dizer que é tua doente...
- É, pela boca morre o peixe, se mo dissessem naquela altura, ter-me-ia rido e jurado meter-lhe cianeto!
- Lembras-te, ia sempre alguém para a rua por causa das caralhadas do Gil Vicente?

Depois, os RGA de manhã, mais os RGE de tarde, a malta a achar que mandava naquela merda mas os gajos é que lançavam as notas, as minhas Levi Strauss que o meu pai comprou não sei como e que me roubaram, no primeiro dia, do balneário, eu a sair de cuecas e a contínua, bebezana mas para isso, já não estava a ver coisas, a apresentar queixa ao reitor, o O'Neill que era o gajo mais bonito do liceu e, nós, roídos de inveja e a ficar com as sobras, os marrões e o maluco do Albarran e o Gregório que não ficava para trás, as aulas da manhã e o combinado no Delta enquanto aguardava a uma e meia e o pudim que comia deliciado e demoradamente porque levava a porcaria do Marie Brizard e já me julgava um homem...

Enfim, uma jornada inesquecível e nós, os perfeitos, não maldissemos ninguém...
Cavalheiro, cavalheiro, continua o meu amigo e colega Horácio, que é urologista, mete o dedo no cu de um gajo e ainda se faz pagar mas, pelo menos, sempre poupa o mulherio!

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