Ao professor José Hermano Saraiva.
Cheguei a Monte Parnaso e já o Professor me esperava, ao cimo das escadas,
- Então, doutor, sempre bem disposto...
Um problema com a esposa, nada preocupante, melhorava com a terapêutica e sem esta,
- É seguro viajarmos para Itália?
(era isto que pretendia saber)
Desde que casaram que, por altura do Natal, passavam uns dias no sul de Itália (e traziam mais figura(nte)s para os presépios)
- Sim, claro. E de resto, se lá acontecer alguma coisa, consulta um daqueles médicos a sério!
A sério.,
Deixava o Professor para o final do dia e ia ficando sempre mais um pouco, até à hora do jantar. Conversávamos, recordava e acordava, pontualmente divergia, mas reconhecia-lhe fascinado a sólida cultura geral e o gosto pela História (não era a sua área de formação) e o narrador.
(exímio, ao jeito dos contadores da Praça Jemaa-El-Fna e da avó Jú)
- Ainda lhe conto mais esta...
Um dia pass(e)ava de carro, junto ao local onde presumivelmente ocorrera a batalha de Aljubarrota, construía-se, então, a nova estrada: um trabalhador empilhava ossos e mais ossos, de mil formas e tamanhos. Parei, olhei intrigado, demorei-me por ali...
- Deseja alguma coisa?
- Bem... Aqui foi seguramente o local da batalha., E vão seiscentos anos...
Mas quer levar um dos ossos, Levo com todo o gosto, de preferência um grande: um troféu!, Obrigado, muito obrigado,
- Estamos nós com esta frieza, amigo, escolhendo o osso pelo tamanho e nem sabemos se era português ou castelhano...
- Mas nem o gajo sabia... - desabafa o trabalhador, pés na terra e pá na mão.
- Como é que não sabia?!
- Ora, porque esse aí, é um fémur de cavalo...
Não se pode saber tudo,
Ansiei chegar a casa e partilhar o episódio. Dois ou três anos depois, passava na televisão.
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