sábado, 24 de junho de 2017

Cena # 1406 - Route 66: A Viagem Sonhada.




Parece complicado, não é: foi a viagem sonhada e a viagem de sonho.,

Kerouac, aliás, sal, e Dean. Se quis juntar-lhes e correr mundo, de farnel às costas, não me quiseram. Ou Dean nunca existiu,
Sonhei fazer a 66, à pendura...

Fiquei-me no meio sonho: aluguei a autocaravana e carreguei malas e malta estrada fora, mesmo se o placard empoeirado, em Amarillo,
avisava,
IF A MAN COULD HAVE HALF HIS WISHES, HE COULD DOUBLE HIS TROUBLES...

O Tomás delirou, não precisou do passaporte; pranchas e bicicletas, sobre e atrás da camioneta, o Simão insistiu no peluche.

Os estados centrais: as pradarias extensas, os campos de soja e os milhais do Illinois, Deus por aqui e Lincoln por todo o lado, os girassóis de Oklahoma, as pastagens, o bife à Kansas e os gelados do Meadow Gold, o ouro negro, o jayhawker e os poços descendentes do Lucas, o Mississipi e o trio engolido pela baleia azul, navajos e comanches, e onde há bordéis há pistoleiros, jogo e intrujice.

Parei para o boneco, lá coube tudo, a caravana e os miúdos e St. Louis emoldurados sob o aço do Gateway Arch. O Vasco simulou o piano, do ragtime que chegava da outra margem.
O ar frio das montanhas canadenses colide com a frente tépida do Golfo do México e a temperatura baixa, abrupta. A depressão semeia tornados e agravou a Grande, de vinte e nove, não bastava as máquinas e a desvalorização do trabalho braçal, o princípio ou o fim do sonho americano, homeless e estradas de caravanas de sentido único, rumo à Califórnia...
É para lá que vamos!
(e ainda a noite é uma criança)


Ponto médio Café, estamos a mil cento e trinta e nove para cada lado. Café e torta caseira e as banheiras com rodas enterradas no areal de Cadillac Ranch. Ao longe, as montanhas do Sangre de Cristo e Santa Fé. Lá, no alto, espera-nos as curvas e o Pablo Índio, em terracota com as portas coloridas.

Três da manhã e era dia, chega a caravana a Albuquerque. Centenas de balões surfam as nuvens, o Tomás adorou o porco, Já tinha visto um, às cambalhotas na bicicleta.
Partimos, o céu ardósia anuncia chuva no Arizona e as temidas cheias, está escrito: quem desconhece a Lei Motorista Stupid, arrisca pagar o resgate, e logo daquela malta toda!

As pepitas auríferas no Rio Americano, a ganância e o crime transformados em colares e os fourty-niners, agora os patudos a jogar no Lakers, eis-nos chegados ao pote de mel,
Brindemos à Califórnia!,
Ao som da Janis Joplin, erguemos os sunset strip à Lei Seca. A Sandra colocou uma flor na orelha.

Trocámos L.A. pela Big Sur, Kerouac pela metade,
A autocaravana serpeou a estrada, costeira e acidentada, equilibrou-se entre carvalhos e sequoias, árvores-mamute onde passam autocaravanas pelo seu interior. O Vasco saltou com os leões-marinhos e as focas que se atiravam dos rochedos, o Tomás descobriu as baleias cinzentas que cruzam o horizonte.
Fim da viagem, em Monterey.
Mariscámos na baía e o Chardonnay estava no ponto, a cambada nem em sonhos troca o MacCarne picada por nada deste mundo!

Acordei às sete, o Vasco intrometeu-se na nossa cama, o costume. Na sala, o Simão anda às cavalitas do Tomás, a fingir disparar as pistolas do Carnaval.,
Vinguei-me dos fantasmas e das noites mal dormidas, e juntei o útil e o agradável: um sonho tornado realidade, vá para fora cá dentro, sem sair da cama e sem gastar tostão.


Magritte, sempre ele, Ceci n'est pas une pipe, e não o é de todo, tão-somente a representação do mesmo...
Ou não:
Esta viagem que foi um sonho, foi ela mesma vivida?,

Que interessa?,
Na próxima apanho a Pan-Americana.



























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