sábado, 17 de janeiro de 2015

Cena # 456 - Pelo Amor à Santa...



Abalava quinzenalmente de Setúbal mais quatro colegas, rumo a Coimbra e ao curso do Dano. Sorteado o carro, coube à Lurdes e quase abalámos de vez:

- Lurdes, quando for a tua vez...- (é melhor sair mais cedo) troçava o Vladi, joco-sério.
Foi desta: com as mãos cerradas no volante e os queixos no tablier, poucas foram as vezes que tirou o pé e o carro veio abaixo dos cento e oitenta. E nem a chuva a deteve. Quase morremos...


Antecipada a chegada em trinta minutos, dei uma volta pela Sé Nova, frente ao Instituto. Não creio, mas ocupo-me.

Os jesuítas fincaram os crúzios na alta coimbrã, reinava D. João III, fundaram o Colégio das Onze Mil Virgens, andavam lá duzentos estudantes a coçar os ditos.
No interior da Sé, o magnífico barroco e o generoso Cadeiral dos Cónegos, encimado por reproduções de Tintoretto, contrasta com a simplicidade das cadeiras para sentar a malta, hierarquia e humildade, é bonito. Fugiram os jesuítas do Marquês, é fartar vilanagem, a prata roubada e a madeira prateada para tapar os buracos, o ouro roubado nas invasões francesas como contribuição de guerra...

- Vais à Sé?! , Visitei-a há pouco: são todas iguais...

Iguais: as igrejas em lama de Djenné iguais às de madeira de Heddal e da Transfiguração, a cúpula de S. Paulo igual aos bulbos de S. Basílio, os minaretes e o mihrab de Hagia Sofia e S. Pedro, Qubbet-es-Sakra, em Jerusalém igual ao Taj Mahal, St. Michel ao alto e Xuankong Si escavada na rocha, o erotismo na Khajuraho é o Templo de Toji, os pináculos de Colónia e da Sagrada Família e as flechas da Votikirche, a ousadia de Ronchamp...
- Não... Mas sim: as católicas, no interior pelo menos mais parecidas...


A Lurdes acompanhou-me: um euro por cabeça, pago o restauro,
- São todas iguais... - comentei.
O Vladi e o  Hugo entraram, atrás de nós.
- Um euro?!
- Sim, é facultativo, bem vê... - explicou a velhota que arrecadava o carcanhol.


A caixa da Bullard, pode deixar uns trocos para o Santo António e para o Bom Jesus: lembrei a Lurdes, com o queixo e as mãos no volante e nós borrados ao carro a fugir a cento e oitenta, não vá o diabo tecê-las e fugir a cento e oitenta graus,
- Tome lá., Deixo-lhe mais um euro por cada um, para a Nª Sra da Boa Morte...











0 comentários :

Enviar um comentário

 
;