sábado, 25 de outubro de 2014

Cena # 384 - Passagem de Ano em Munique.



  Tenho mais energia que a própria bomba!
                                           Fassbinder
                                                                 

Era uma vez um duque, o Leão, e um bispo que julgava autoridade naqueles vândalos...
O bispo despediu-se da ponte, a caminho do Roma, a velha ponte-alfandega que enchia os bolsos dos monges, taxado o sal; não quis o Senhor, mas o duque destruiu a ponte e suspendeu, outra, a sul: assim nasceu Munique.

Fiz-me à estrada, desde Salzburgo,
Em Inglaterra, nos anos trinta, o MG acendia uma luz vermelha no painel, alcançadas as trinta milhas; fora do perímetro urbano, o céu e as curvas fixavam o limite,
Desde trinta e dois que a velocidade nas autoestradas alemãs depende do angulo do tornozelo, impor-lhe um limite seria estar fora de moda,
Na moda, e fora de brincadeiras: Munique foi a minha última passagem de ano,
Salvo seja!

A capital bávara é elegante, requintada de estilo: criativo e maneirista, na Igreja de S. Miguel, a magnificência gótica da Rauthaus, as cúpulas gémeas e bolbosas da catedral, o rendilhado barroco que enche a cidade e a influência italiana de Theatinerkirche, o rubi rococó do Teatro Cuvilliés, na Residenz, a disciplina neoclássica da Glypothek, as casas de Arte Nova e o Homem Andante, na Ainmillerstrasse, Kandinsky, a cor e o (desas)sossego expressionista em Santa Úrsula, a inquietante e totalitarista Haus der Kunst, o Terceiro Reich, paredes meias com a tranquilidade do Englischer Garten...

Tudo converge e se mede desde a Marienplatz e da coluna da Virgem,
Onze em ponto: abre-se o  Glockenspiel ao mundo, para o desfile das figuras medievais; em cima, o casamento de Wilhem V, fundador da Hofbrauhaus, a mais famosa cervejaria muniquense, com Renata, felizes para sempre de caneca na mão; em baixo, a dança dos Tanoeiros, a Schaffertanz.
A lavagem do dinheiro e o carnaval, à moda alemã: na Quarta-Feira de Cinzas, os governantes banham as carteiras e lavam a honra na Fonte dos Peixes, para que a cidade enriqueça.

Onze da noite: sapato alto para a passagem de ano, na Marienplatz... Os miúdos e os graúdos atropelam-se, ultrapassam-nos segurando os foguetes na mão: é a loucura, aquela gente ordeira e simpática transforma-se, voam os foguetes que atravessam a praça rente ao solo, a bicha de rabear cai aos pés da Leonor,
- Vamos embora!

E fomos, aos saltos, a Leonor a (des)equilibrar-se nos dela, meia noite no hotel,
Nove da manhã, com gelo nas canetas...

A tradição ainda é o que era: o lederhosen com suspensórios, o chapéu de feltro com pena e as meias até ao joelho,
O maypole, as cores e as flores, os comes e bebes do Viktualienmarkt, o empadão de carne da Franziskaner, os biergarten sob a copa dos castanheiros, a banda que toca no segundo nível da Chinesischer Turm, o Reinheitsgebot que decreta o uso exclusivo de água, lúpulo e cevada na composição da cerveja, as feiras de Natal que espalham a música pela cidade, o gluwein e os chocolates do Luitpold,
Munique tem uma cultura de bairro e de cafés, como Paris ou Lisboa.

E olha o futuro: o Deutsches Museum, na bifurcação do Isar, o maior museu de ciência e tecnologia do mundo, o Planetário, o espetáculo laser ao som das estrelas que tocam e as outras, inatingíveis, a luxuosa Maximilianstrasse, a onda e os surfistas do Eisbach...

Ninguém é perfeito e até a Neue Pinakothek tem telhados de vidro, o coração dos bávaros bombeia cerveja!
Ora aqui está uma cozinha que me enche as medidas!, a sopa farta de cogumelos e o schweinshaze,

Quatro graus negativos, a Leonor trocou a ganga pelas calças do pijama  e foi de verde seco que entrámos na abarr(il)otada Augustiner,
Munique não é para grilos, que o digam os japonas agarrados à litrosa de Dunkel, espuma nos lábios e o pernil no bucho!

A Oktoberfest em duas palavras: nunca fui...
Mil viagens, retorno de avião, barco ou ao volante, mas todas acabam da mesma forma,
A Leonor,

- Quando chegar, começo a dieta do brócolo!











1 comentários :

Anónimo disse...

Por favor retirar o nome de Leonor desta publicação

Enviar um comentário

 
;