sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Cena # 41 - O Pato.

Anos setenta, tínhamos uma roulotte no parque de campismo, na Toca do Pai Lopes e, aí, decorriam as férias. Adorava a pesca, acompanhava o Grande Agostinho, meu tio,  rival de Mestre Gabriel. Era um duelo de titãs! O resto era paisagem: uma dúzia de curiosos e o Sttau Monteiro, contando histórias e tentando apanhar o que lhes escapava.
Após o almoço, peregrinávamos ao Tainha para o café e uns bons jogos de damas e, por lá, nos demorávamos boa parte da tarde.

Uma noite o Gabriel encheu o papo enquanto a malta dava banho à minhoca... A velha raposa iscava, dobrado, na penumbra do candeeiro a gás, a malta fingia descontração, boquiabertos e os olhos ejetados das órbitas. O Agostinho atirou propositadamente a linha para cima do outro, puxou, puxou...
- Camarão... - segredou-me.
Na noite seguinte, todos iscávamos com camarão mas, segredo dos deuses, ninguém o revelava...

Cheguei tarde ao Tainha, já lá estavam os Mestres.
- É segredo, não contes a ninguém, hoje vais pescar com fiambre, é do melhor que há!
- É, vê lá o que vais fazer, não contes a ninguém... - reforçou o meu tio Agostinho.
Fechei-me em copas, segredos destes não se apanham todos os dias, pedi baixinho ao Tainha:
- Uns seiscentos de fiambre, aos cubos!
Virei-me na direção do Gabriel:
- Chega?!
- Deve chegar, deixa aí, o teu tio logo leva...
Lanchei mais os outros que se juntaram ao festim. Que barrigada!
Dez da noite, petromax e cana numa mão, caixa e alcova na outra, juntei-me ao meu tio Agostinho.
A cambada já pescava. Do fiambre, népia, apenas camarão...
- O fiambre, esqueceu-se?...
- Marchou ao lanche, lembras-te?!
Estava furioso, espumava e deitava fumo pelas orelhas, ouvia-lhes as gargalhadas e os corpos e as canas agitadas ao luar.

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