Após o almoço, peregrinávamos ao Tainha para o café e uns bons jogos de damas e, por lá, nos demorávamos boa parte da tarde.
Uma noite o Gabriel encheu o papo enquanto a malta dava banho à minhoca... A velha raposa iscava, dobrado, na penumbra do candeeiro a gás, a malta fingia descontração, boquiabertos e os olhos ejetados das órbitas. O Agostinho atirou propositadamente a linha para cima do outro, puxou, puxou...
- Camarão... - segredou-me.
Na noite seguinte, todos iscávamos com camarão mas, segredo dos deuses, ninguém o revelava...
Cheguei tarde ao Tainha, já lá estavam os Mestres.
- É segredo, não contes a ninguém, hoje vais pescar com fiambre, é do melhor que há!
- É, vê lá o que vais fazer, não contes a ninguém... - reforçou o meu tio Agostinho.
Fechei-me em copas, segredos destes não se apanham todos os dias, pedi baixinho ao Tainha:
- Uns seiscentos de fiambre, aos cubos!
Virei-me na direção do Gabriel:
- Chega?!
- Deve chegar, deixa aí, o teu tio logo leva...
Lanchei mais os outros que se juntaram ao festim. Que barrigada!
Dez da noite, petromax e cana numa mão, caixa e alcova na outra, juntei-me ao meu tio Agostinho.
A cambada já pescava. Do fiambre, népia, apenas camarão...
- O fiambre, esqueceu-se?...
- Marchou ao lanche, lembras-te?!
Estava furioso, espumava e deitava fumo pelas orelhas, ouvia-lhes as gargalhadas e os corpos e as canas agitadas ao luar.
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