domingo, 4 de agosto de 2013

Cena # 37 - Os Meus Azulejos.


Há vinte anos que conheço o Alexandre: pelo meio, casou com a Cristina e teve dois rapazes.
O Alex adora kitesurf. Trabalha em Argel: não nega desafios,


Passámos o fim de semana de abril, em Troia, um tê-zero-sala-de-refeições-e-de-estar-e-sofá-cama, tudo a quilo e ao monte, em trinta metros quadrados, menos o quarto dos beliches. Os miúdos adoram!

Por fora, o azulejo por mim desenhado, denuncia o proprietário: o doente crendo no crucifixo, mais o penico e o gato preto e, por baixo,

                     DEUS CURA OS DOENTES, E O MÉDICO RECEBE O DINHEIRO.

- Vais pôr isso?,
- Sim, é verdade.


O dia continuou ventoso: às dezasseis, jiboiava eu o almoço ao ritmo do premonitório Seal
                     ... We're never never gonna survive, unless we're a little crazy,
Quando os rês murros na porta e a campainha frenética, me despertaram
- O senhor é médico, não é?, Está um indivíduo caído na praia!

O Alex jazia partido, enredado nos fios que restavam do kite surf: uma corrente ascendente elevara-o à altura de um prédio de cinco andares  e toca de andar para baixo até se estatelar no areal e partir-se em vários.,
Nestes momentos os amigos não abandonam e as dores também não, dei-lhe a mão,
- Alex, aguenta...

A Cristina, chega pela praia, traz os miúdos pela mão. Atrasa o passo, pensa na vida, e no resto,
- Diz-me, só, Alexandre: ainda achas que valeu a pena?!



Deixa, amigo,

                     ISTO DE UM GAJO ESTAR VIVO, UM DIA ACABA MAL...

 Está no outro azulejo, à entrada do meu consultório: eu avisei.

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