Há vinte anos que conheço o Alexandre: pelo meio, casou com a Cristina e teve dois rapazes.
O Alex adora kitesurf. Trabalha em Argel: não nega desafios,
Passámos o fim de semana de abril, em Troia, um tê-zero-sala-de-refeições-e-de-estar-e-sofá-cama, tudo a quilo e ao monte, em trinta metros quadrados, menos o quarto dos beliches. Os miúdos adoram!
Por fora, o azulejo por mim desenhado, denuncia o proprietário: o doente crendo no crucifixo, mais o penico e o gato preto e, por baixo,
DEUS CURA OS DOENTES, E O MÉDICO RECEBE O DINHEIRO.
- Vais pôr isso?,
- Sim, é verdade.
O dia continuou ventoso: às dezasseis, jiboiava eu o almoço ao ritmo do premonitório Seal
... We're never never gonna survive, unless we're a little crazy,
Quando os rês murros na porta e a campainha frenética, me despertaram
- O senhor é médico, não é?, Está um indivíduo caído na praia!
O Alex jazia partido, enredado nos fios que restavam do kite surf: uma corrente ascendente elevara-o à altura de um prédio de cinco andares e toca de andar para baixo até se estatelar no areal e partir-se em vários.,
Nestes momentos os amigos não abandonam e as dores também não, dei-lhe a mão,
- Alex, aguenta...
A Cristina, chega pela praia, traz os miúdos pela mão. Atrasa o passo, pensa na vida, e no resto,
- Diz-me, só, Alexandre: ainda achas que valeu a pena?!
Deixa, amigo,
ISTO DE UM GAJO ESTAR VIVO, UM DIA ACABA MAL...
Está no outro azulejo, à entrada do meu consultório: eu avisei.
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