terça-feira, 3 de setembro de 2013

Cena # 67 - Volta ao Mundo: Antes Só que Mal Acompanhado...

Antes só...

Sozinho, corri mundo. Corria dois mil e três, ofereci-me uma volta ao mundo: um safari em África, a máquina, ainda de rolo, numa das mãos enquanto a outra segurava as calças para a bicharada que aparecesse, mudança de continente e de hemisfério para buscar a espiritualidade, na Índia, um pulo à terra dos cangurus, outro até àquelas palhotas, assentes em meia dúzia de estacas, nas águas verdes do Tahiti e já ganhara um dia... Sobrevoei a cordilheira andina, surpreendi-me com a modernidade de Santiago e subi, à descoberta da Amazónia. Não durou os oitenta dias de Phileas Fogg mas não me importava com a troca.
Aterrei, pela manhã, em Nairobi e, duas horas depois, já me alapava no afamado Carnivore, all-you-can-eat-meat-buffet. Sugestivo... As carnes, no ponto, as espetadas a passar, os nacos a escorrer, a cabeça que sim e a boca que não...
Esperavam-me umas sete horas de pó, de jipe, até Masai Mara.
(uns 'finexes' optaram pela segura e rápida avioneta mas retornaram, todinhos, de jipe: chegada a Masai Mara, aterragem no meio da savana, rodas praticamente no solo, uma manada de elefantes a atravessar-se e nem precisaram de laxantes por aqueles dias)
Sufocados pelo pó, paragem a meio para uma bebida numa estação de serviço, com lavagem automática e tudo: suspenso numa acácia, um cubo com um metro de lado e com um orifício de onde escorria água e, sob o qual, dois funcionários empurravam o carro, para um e outro lado, conforme era necessário.
Subimos as colinas Oloolaimutia e já avistava o Lodge, lá no alto. Arejado e bem decorado, ao centro, uma tenda gigante com bar, restaurante e piscina. De um e outro lado, guardas de carabina em riste, patrulhavam, dois caminhos, ladeados por luxuosas 'villas'. Coube-me, em sorte, a última, a centímetros da savana e a uma boa centena de metros da receção....
Passeámos pelo Parque, extensa reserva natural, colecionei gazelas, impalas, gnus, javalis, leões, girafas, elefantes, nos meus rolos. No dia seguinte, viagem até à fronteira com a Tanzânia, o pé do lado de lá para a foto da praxe e a célebre garganta onde são filmados muitos dos documentários sobre a migração de gnus e zebras... Violento não é o rio mas (em oposição a Brecht) os hipopótamos e os crocodilos que por lá passeiam! À noite, serão, copo na mão mais danças e cânticos Masai e, já tarde, o regresso à acolhedora cubata.
Escrevi que parti sozinho, e é verdade. Não esperava companhia mas abri a porta e lá estava: toda ela casaco de peles, as pálpebras descaídas naquele jeitinho sedutor, os dentes, uma pena, desalinhados e com os caninos salientes...
Gritei alto, muito alto, ouviu-se em todo o Serengeti, apareceu meio mundo, o guarda da carabina também, um dos turistas ainda viu a maldita da hiena a correr!

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