Cena # 59 - O Submarino.

Não pude recusar: a Leonor chegava às dezoito, tinha que levar o Vasco à natação. Normalmente, assisto-os do varandim da piscina das Palmeiras, delicio-me com a sua graciosidade e cumplicidade e, pergunto-me, se não deveriam pagar para a minha mulher, mesmo sem a barbatana, lá andar.
- Está aqui a mala e por fora, as chaves, uma para o Vasco, outra para ti; dentro, a tua touca, calção e chinelos, a um lado e, do outro, a fralda - não te esqueças do calção de banho por cima! -, a touca, os sapatinhos e a toalha do Ratão e, nesta "necessaire", o gel e o champô, dá-lhe banho, fica logo despachado!
O espanhol não quer bom princípio e, de facto, fui o primeiro a entrar, a coisa corria bem... Saltava do escorrega para as bolas, mergulhava e apanhava as argolas no fundo, alapava-se no meu colo e, por vezes, lá se afastava para brincar com este ou aquela!
A Leonor chegara há algum tempo, acenou do varandim.
Foi, então, que o Vasco se retirou, sorrateiramente, para um dos cantos, olhar comprometido, mau sinal... Junto a si, boiava um pequeno pedaço, estranhei...
- Cortiça?!
Mas a cortiça não multiplica e o cocó alastrava, agora, num raio de dois metros... Em vão, espalmei a minha mão no seu rabo, numa desesperada tentativa de suster tamanha produtividade. Hora de sair de fininho e chamar por socorro!
A Leonor agitou os braços, que não e apontava-me, com insistência, o relógio, acenava-lhe eu que sim, "game over"...
- Adeeeus, até já... (amor, diz adeus à mamã)
Dobrei a esquina, ganhei asas, pu-lo no chuveiro
- Não sais daqui, ouviste?!
Corri para apanhar o champô, o gel e a toalha, segundos depois já me enfiara lá dentro. O ralo entupiu, dava agora pancadinhas com o calcanhar na esperança de o desobstruir, as figuras que um indivíduo faz, o Vasco achou graça e pôs-se aos pulos naquela água nojenta, saltava porcaria por todo o lado!
Apenas um ou dois pequenos submarinos a flutuar, zarpei para o chuveiro da frente, champô e gel, um brinquinho!
A aula terminara, um pai trazia o filho, pela mão. Espreitou o chuveiro, em frente...
- Mas que imundície, esta!
E eu
-De facto, ótimas instalações, sabe como é, esta malta não merece, é dar pérolas a porcos...
À saída, avisei a funcionária de que um menino - com certeza da classe anterior - tinha deixado aquilo tudo sujo...
A Leonor já nos esperava. O Vasco limpinho, impecavelmente vestido! Tranquila, apenas um reparo:
- Fizeste tudo bem, dás conta do recado, só te estava a fazer sinal e a apontar para o relógio porque ainda faltava dez minutos para a aula acabar!

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