terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Cena # 1958 - Saudades das Acácias de Benguela...


Lembro as farras de Luanda
Serra da Leba no Lubango
Acácias rubras em Benguela
Vou ver a welvitchia no Namibe
Vou ao Maiomba em Naulila...

                      Eu Vou Regressar, Duo Ouro Negro.


Foi há duas semanas, viajei sem visto até Angola, está visto, sem sair do consultório,

Os meus bisavós vieram de Loulé para Moçâmedes, ainda no Índia, mais dois dias de carroça e chegaram ao destino: Sá da Bandeira, uma planície e uma nascente, a água dividida por talhões e os colonos a escolher-se como vizinhos; na segunda leva, mais braços, comerciantes e um farmacêutico, punham casas de pé com os tijolos da altura, terra amassada com capim, uma parede levantada por dia.

O meu pai serviu para a Guerra de Catorze. Os alemães invadiram Angola pelo sul e, em trinta e cinco, pagaram as indemnizações; trocados marcos por escudos angolanos, os meus pais compraram a casa de Benguela,
António, nasceu em vinte e quatro, está sentado à minha frente, a tensão e a diabetes para trás,
- Estou com noventa, doutor, nem a terçã me levou...

Em quarenta e sete, entrou para os Caminhos de Ferro, que aproximou o porto do Lobito do Congo,
A cidade desenvolveu, cresceu em avenidas largas, ricas de acácias tingidas de garança, goiabeiras e da sombra apetecida dos frondosos tamarindeiros,
África, Terra-mãe, ovimbundus, kimbundus, mestiços e brancos, o cheiro da terra entranha-se e atrai à rua,
Carochas e machibombos  e o Triumph do Bacalhau, à boleia dos trocos dos amigos...

As noites correm calmas e mornas, suavizadas na brisa da corrente antártica , as estrelas e os sumos da Castália são do outro mundo!

E a Cuca: Companhia União das Cervejas Angolanas, verdadeira instituição nacional,
Copo na mão, sentados ao pôr do sol no murete da Praia Morena, o banho nas suas águas cálidas ou os matraquilhos no Porta-Aviões,
O circuito da Praia, depois Autódromo,

O promontório que se ergue do verde-azul, jade-ultramarino, da Baía Azul,
As traineiras e o peixe a secar ao sol, na Baía Farta...

As turmas, as farras e as kizombadas, as festas do Bairro Benfica e o Jack Rumba, Rei do Semba, o calor da rebita e do gindungo,
As morenas, valha-me Nossa Senhora do Pópulo!,

O cineteatro Kalunga, a céu aberto, e o Orlandini em playback no velho Monumental, o papagaio do Fialho a mandar um gajo para o carnaval do Lobito...
O Rádio Clube e os derbies de Lisboa, as rodadas de Cuca e o arroz de quitetas,
As muambas e o muzongue, o bombó e o melhandungo que ressuscitava morto e suscitava calafrios no vivo...

As mulheres pousavam as quindas entrelaçadas no capim e vendiam o camarão, cinco quilos por dois escudos e meio...
- E o Camarão, do outro?!, A célebre nota de quinhentos, do Alves dos Reis...
- Ainda ouvi o meu pai falar do engenhocas..., Mas não vá sem resposta, doutor!, Mais dois ou três Alves dos Reis e éramos um país rico,
E os alemães tinham de nos pagar a indemnização, quisessem ficar com isto!











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