sábado, 13 de outubro de 2018

Cena # 1907 - O Poço da Morte...

 

        "Quand vient fa fin de l'eté, sur la plage
        (...) L'amour va se terminer
        Comme il a commencé
        Doucement, sur la plage
        Par un baiser...

        (...) Le soleil est plus pâle
        Et nous n'írons plus danser
        Crois-tu qu'après tout un hiver
        Notre amour aura changer..."

                Laurent Voulzy, Derniers baisers.




Vá para fora cá dentro, não consigo feriar: raios-para o Franklin, e o Bell que inventou o telefone.
Prometo-me para o ano que vem, um dia largo as palas e a cenoura. Rumino as férias de criança,



O Bico das Lulas, rareiam agora, umas e outras, a bola de Nívea há muito chutada, a bola de Berlim que veio para ficar: os alemães mandam, desde o Barba Roxa que é assim; e como um asae vem só, sorte nossa, foram a banhos mais as alforrecas,

A Figueirinha, os barquilhos da Ti Maria, os pés a escaldar na areia quente e o peixe-aranha de molho na língua de areia, os gelados de nata da Valenciana a vinte e cinco tostões, a moeda da caravela, os trocos que o Paulo surripiava das mesas,
Amontoam-se carros, tudo ao molho e fé em Deus que é dia do Senhor, Júlio: regressou, ele e a mulher, os sacos, a sombrinha e as sobrinhas às cavalitas, e o carro trancado pela carroça de um animal qualquer; hora e meia, a explicação:
- Sim, e o que quer?!, Hei de ter tanto direito à praia como você!



É verdade, o sol quando se põe não é para todos, o fim de tarde no Portinho, o Salmonete e as barracas às riscas,

Os namoros de verão,
Para sempre...

Os filmes na Esplanada, a laranjada e a manteiga esfregada no pão quente da Fonte Nova, às duas da manhã,


Já sabem que eu estou aqui, o gelado de morango do Ervilha, os bilhetes regateados nas traseiras do Salão, a Feira na Luisa Todi, o Poço da Morte, o Sumol e as farturas do Barafusta, os furos da Regina,
A nota de vinte escudos, o Santo António e as dondocas da caridade, fica bem e fica pior quem dá, os truques do Finura e o Forte Faria, hipnotizado no empedrado junto à Brasileira, a piscar o olho na noite animada da Praça do Bocage, a Arca Doce, dá Deus nozes da Beija-Flor,
Os beijos demorados no Samba pa ti e as festas de garagem...



O trabalho, já o deito pela menina dos meus olhos.
Desde os fins dos anos sessenta que o Vicente está de férias, ocupa-se dos desportos de lazer e da massa que o pai, industrial, lhe deixou; estranhei-o no barco das sete e meia, para Setúbal: acidente de trabalho, torceu o tornozelo na caça, vai à fisioterapia no Outão.

O Santos: Dias Santos, bem podia estar calado:
- Vicente, vais pegar das nove às dez ou hoje tens horário alargado?!


Ele é que a leva direita. Nós, corremos: vendados, às voltas no Poço da Morte...





 

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