sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Cena # 1535 - Era Uma Vez...



     Um e dois e três
     Era uma vez
     Um soldadinho
     De chumbo não era (...)

     Soldadinho lindo
     Era o Rei
     Da nossa terra
     Fugiu para França
     P'ra não ir
     Morrer na guerra.
Ronda do Soldadinho, José Mário Branco.



                                                                            I


Golpes e contragolpes, da Mealhada, da Sé, de Beja e, um mês antes, o das Caldas adivinhava o reviralho...,

Parece que não, passaram quarenta anos pelo 25 de abril e por nós, olhe que sim, olhe que sim: na rua, um milhão no Dia do Trabalhador, nas urnas, votam nove em cada dez, tempos que não voltam,

Além dos partidos do barco da governação, o rei vai nu, PPM, MDP-CDE: o voto do povo, FSP, FEC M-L, PRT, LCI, MRPP: abaixo o capitulacionismo e o liquidacionismo, PRP-BR,
Barricadas revolucionárias, intentonas e caça às bruxas.,

Quem tem medo dos comunistas?, Os inimigos da liberdade e do progresso, os parasitas: não comem criancinhas, assegura Cunhal, mas o Gulag de Soljenitsine garante que também não é o melhor dos mundos e, para os presos políticos, o cabo dos trabalhos...

Pluralismo, é bonito: antes eles que nós, Otelo aponta ao Campo Pequeno antes que aos contrarrevolucionários lhes passe pela cabeça; Emídio Guerreiro, embalado na bandeira, promete armar cinquenta mil homens: é uma brincadeira de amigos, se o Pinheiro arma quarenta mil...,
Certo: as G3 voam de Beirolas, o povo é sereno.,
Como passa, Sr. Contente?, Como está Sr. Feliz?

Falemos de coisas boas: a Gina e a Tânia que não lhe chega às coxas, a Emmanuelle que dá dez a zero às duas,
As bombas de 76.

O sequestro dos deputados, e eles ralados,
Os Belenenses jura amor ao Portugal Socialista, fora Estaline e Lenine, o bispo do Porto inocenta Marx,
Vem nos jornais, a vinte e cinco tostões: os Diários, Popular e de Lisboa, A Capital, o Jornal Novo e o República: é do povo e não de Moscovo, é do pessoal e de Cunhal,
E no Expresso, o pasquim do companheiro Vasco.

Os retornados ocupam o Banco de Angola, claro, alguns, dobram a Má Esperança em traineiras, sobem o Atlântico e chegam ai Algarve.,
25 de abril, sempre!


                                                                           II


Era uma vez e vão vinte anos, olhe que talvez.,
Eu e a minha mãe votávamos no Parque das Escolas: sem filas, exceto na nossa mesa onde, às dez, dúzia e meia de domingueiros tagarelavam, à espera de votar,
- O que se passa?!
- Faltou um dos elementos da junta...

Como é e deixa de ser, caçaram um desgraçado junto ao Mercado do Livramento, para substituir o gazeteiro,
- Número não-sei-quantos, Jorge Manuel Carvalho Martins dos Santos Forreta!

Não era para os apanhados, o apanhado não apanhou,
- Então?!, Número não sei quantos,
Nem ele:
- Desculpe, não sabia que era para isto: eu não sei ler...










 

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