quarta-feira, 12 de julho de 2017

Cena # 1425 - Retrato de Banguecoque.




À primeira vista, não é amor,
Não é oriental, smog e arranha-céus caixote,
Não é ocidental, os templos e as stupas dourados, avermelhados ao sol sufocante do fim da tarde, os tuk-tuks e os riquexós à pata...

Depois...
Os autocarros-tartaruga arrastam-se a cinco quilómetros por hora, e hora de ponta é desde que o dia rebenta nos prangs do Wat Arun até que se põe, com ou sem companhia, manhã cedo, em Patpong, os táxis-motos e a adrenalina no pico, encolho os tomates e mesmo com eles apertados ainda coço os joelhos nos carros, os tuk-tuks amarelos e azuis, a dois tempos e, às vezes, a três rodas, Buda e nós pendurados, paro em três lojas a pretexto da comissão, discuto para o boneco, para o lenço e para o falo de madeira pendurado no pescoço, dá sorte, wai,
- Mai pen rai! (está tudo bem)
Acendo a vela do krat hong, o barquinho-arranjo-floral afasta-se na noite escura, desejo em Erawan Shrirne e funciona, o elefante desce-me, tromba em baixo, dá azar, mas vivo, na casa de banho próxima, é o hábito e as vestes laranjas dos monges, rituais e amuletos, vira-se o feitiço e novo golpe de Estado,
mais um,
- Mai pen rai... - sorri o guia: that's thai way of life!
Misteriosa e enigmática, Banguecoque, cativa.

As dezenas de papagaios de papel espreitam o Wat Phra Kaew,  o Grande Palácio, os telhados multicolores, folheados a ouro e rematados pelo cho fa; a multidão funde-se com as criaturas fantásticas que o povoam, quem é meio humano meio animal, leões, elefantes e garudas numa roda da vida, reina a harmonia, mesmo se a naga, a serpente gláucica, representa o ódio...
No bot, medita o Buda Esmeralda, símbolo nacional, um Buda não se mede aos dois palmos, três mudas de roupa, uma para cada estação: estamos em novembro, vinte e nove graus lá fora...
Não longe, no Wat Pho, repousa o Buda Reclinado, um gigante de quarenta e seis metros de comprimento, cumprimentos e a moeda, os pés valem madrepérola e os cento e oito laksana, os auspiciosos sinais de Buda.

O Menam enche os khlongs de Thonburi e pinta as margens de cor azeitona; as mulheres equilibram as canoas e as pirâmides de rambutãs, longanos e anonas dos cestos de bambu, rumo ao Phak, o mercado aberto noite fora; de dia, ladrões no mercado de Nakoan Kasem, viveiro de serpentes, jacarandás, hibiscos e orquídeas, no Thewet, tecidos e especiarias indianas, no Pahurat...



Outra vez arroz, com ou sem caril, o gaeng, verde ou vermelho, com leite de coco e amedoim, às vezes, com garfo e colher, sempre,
Sem facada, refeições baratas e gafanhotos, em Banglamphu,
Ovos afrodisíacos de pata e da peta, com sem anos.

Há cem anos era assim: jogo, ócio, ópio e casas da luz verde em Sampeng Lane, no Bairro Chinês; ficaram as casas-lojas, os dragões e os balões, não se foi o ouro, vende e entrega-se,

Ao bandido,
que não me fez sobrenatural: tufo de pelos entre os olhos, metem-me os dedos, do pé, direitos e de igual tamanho, pernas de antílope e pestanas de vaca, a pele tão lisa que não pousa a poeira,
Não repousa a fruta no saquinho e era o escolhido,
Verdade budista, toda a existência é dukkha, sofrimento,
É dos carecas que elas gostam mais...

Patpong é famosa pela vida noturna, tatuagens e massagens, três mil anos da coisa, prostituição e shows sexuais, fast e slow food, os neons e os bonecos animados não desanimam,
Dardos projetados aos balões do tecto, pum, pum, pum e a pirilâmpada deu à luz, festa e fitas dali saídas, a dar voltas ao quarteirão: a malta boquiaberta, abriu a stripper as pernas ao pincel: e no papel, desenhou e pôs à mostra a careca do colega do norte,
Retratado, já o vejo emoldurado no centro de saúde,
- No lendário Oriental, onde Maugham e Greene se hospedaram, esta é a história, verdade,

Verdadivinha,
Banguecoque, de seu nome completo: Grande Cidade dos Anjos, o Repositório Supremo das Joias Divinas, a Grande Terra Inconquistável, o Grande e Proeminente Reino, a real e Fabulosa Cidade Capital de Nove Nobre Joias, a Maior Residência  Real e Grande Palácio, o Abrigo Divino e Lar dos Espíritos Reincarnados.

E em carne viva, acho que sim.,
Sawadee!








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