Cena # 131 - O Senhor Alface.

Parque de Campismo, Toca do Pai Lopes, verão quente de setenta e cinco...

A política separou família e amigos, vermelhos e verdes naquilo,

Povo-MFA, CMLP, FEC-ML, LUAR, LCI, Associação Operária Camponesa, soldados e marinheiros, a luta continua, gonçalvistas e otelistas e o Alfredo da pastelaria Capri a comer e a correr com o rabo entre pernas, porque saiu na rifa como colaborador da PIDE,

As BR: extinção imediata da GNR e da PSP!, o edifício dos Quatro Caminhos okupado, e depois, a direito e tanto direito como os outros e para mais foi construído por camaradas nossos com o dinheiro roubado aos trabalhadores,

Fora a exploração fascista e o monopólio imperialista, as barracas do Creiro legitimadas pela vigilância e defesa da Arrábida, A terra a quem a trabalha! nos muros do cemitério grafitados por abarca, os murais do MRPP e

As irmãzinhas do Paula Borba a rezar e a fazer figas pela conversão do Barreirinhas, o Bochechas, simplismo ideológico, és por ou contra nós,

Olhe que sim,

- Olhe que sim...

Que saiba, o Alface não era comunista. E também não era Alface,

O Cardoso, seu nome verdadeiro, tinha uma bela caravana verde, o fato de treino verde(,) claro com o leão ESTAMPADO, e o Citroën GS seis meses depois estampado e pintado de verde-bexiga,

Morava no coração de Lisboa: era alfacinha de gema.

A alcunha, como a máquina, veio para ficar, exceto quando  se cruzava connosco,

- Bom dia, boa tarde, boa noite, senhor Cardoso!

Prestável, o Alface prestou-se às coisas que a minha mãe inventou na roulotte, à troca de mil obrigados,

Obrigado, senhor Alface, é muito simpático da sua parte, senhor Alface, não fosse o senhor Alface..., o meu tio Agostinho percebeu-a(,) a sério,

- Cardoso. O homem chama-se Cardoso!... 

Mil desculpas, cem culpas, fica sempre bem e o alfacinha agradece,

- Reparei que todos o consideram por senhor Cardoso: posso trata-lo assim, senhor Alface?...





 

 

 

 

 

 

 

 

 

Partilhar esta Cena...